Soberania ameaçada

                Cada dia que passa mais me convenço de que o Brasil, após mais de 500 anos de descobrimento, ainda não perdeu o estigma de colônia de exploração. Muito me entristece constatar isso. Feliz da vida mesmo está o italiano Cesari Battisti, que graças ao nosso querido ex-presidente, o “lulinha paz e amor”, pode aproveitar com total liberdade tudo o que o nosso país tem de melhor, mesmo carregando nas costas uma ficha marcada por vários  assassinatos cometidos em seu país de origem, revoltando uma nação inteira. Não a nossa, a sua própria. Não sei o que pior. Esse, porém, é apenas mais um dos inúmeros exemplos de decisões arbitrárias, ainda que nada inocentes, que confirmam o fato de que nosso país nunca foi de fato independente. Não é à toa que algo como o turismo sexual seja tão comum no país, já que para a grande maioria dos estrangeiros nossa língua materna é o espanhol, trombamos com primatas pelas ruas e navegamos seminus pelo rio Amazonas. O pior de tudo é conceber a idéia de que não há a menor pretensão de desconstruir essa imagem. Parece que o “filósofo” Ney Matogrosso acertou em cheio quando disse que “não existe pecado debaixo do Equador”. Mas não era pra menos. Se pra demitir nosso Chefe da Casa Civil, acusado de enriquecimento ilícito e tráfico de influência, já foi um verdadeiro parto, como se ele fosse a vítima da história, porque o Brasil perderia a oportunidade de fazer jus à sua tão controversa cordialidade?

        Afinal, somos um país que costuma se gabar de sua receptividade, que se caracteriza por ser uma nação que se reinventa a cada dia, mas que, por conta disso, não mede as consequências. Pior do que isso é perceber que mesmo legislando em causa própria e teoricamente defendendo o suposto livre arbítrio de seus compatriotas, as autoridades brasileiras põem em risco até mesmo sua própria Constituição, em nome da pós-modernidade. Cada vez mais o discurso convence de que a luta é pela liberdade enquanto se lê nas entrelinhas que os direitos assegurados pela democracia estão sendo ameaçados. E não há somente uma única prova disso. A lei que chama de “homofóbico” quem não concorda com um determinado tipo de comportamento alegando, que isso fere a liberdade, justamente cerceia a liberdade daqueles que se opõem. Estabelecer cotas segundo parâmetros raciais também fere a liberdade daqueles que não as tem em seu favor. Penso que em qualquer lugar do planeta, o potencial se mede pela competência e não pela cor da pele. Enfim. O problema, porém, não para por aí. As leis a favor das minorias, não que devam ser ignoradas, mas sim tratadas na medida em que não se tornem fator discriminatório, só vem a confirmar essa coisa perigosa chamada relativismo na qual caiu o nosso Brasil. Quando ele impera, o Estado vai caminhando para a dissolução da vivência em sociedade, gerando ainda mais segregação, já que cada um deve defender o que pensa, ainda que, para isso, seja necessário sobrepujar a Carta Magna de um país. Em nome da tolerância já estamos chegando ao ponto de não tolerar que a educação dos filhos seja prerrogativa de seus pais. Questões de foro íntimo, as particularidades de cada família (sem defender, é claro, abusos de qualquer espécie), acabam caindo nas mãos dos governantes. Como se eles fossem parâmetro pra educar nossos filhos.
 
         As coisas estão tão fora de controle que já está se ouvindo falar de nações como a China, por exemplo, interessada em adquirir propriedades no Brasil a fim de garantir suprimentos para o seu país, já que a produção de alimentos ali é praticamente inexistente. O que dizer sobre isso? Aterrorizante.

          Pensando esse contexto a sensação é a de que tudo não passou de um sonho, de que na verdade nunca fomos independentes e que tanto faz como tanto fez se temos Constituição ou se protegemos criminosos foragidos. Afinal de contas, pra que se dar ao trabalho? A reposta de um típico brasileiro poderia ser uma outra pergunta: Quem se importa? Em tese, parece que é assim que as coisas por aqui funcionam. “Se eu estou bem e tenho meus direitos assegurados, por que me importaria com os seus?”, poderia-se dizer.  Às vezes tenho a impressão de que caminhamos para instituir essa máxima.

      É bem verdade que esse quadro mais parece um grande pesadelo. Ainda que essa perspectiva pareça real, infelizmente talvez até o seja, não se pode dar lugar a inércia, por mais tentadora que ela possa ser. Enquanto mantemos vivas as nossas crenças e defendemos a verdade, não podemos sucumbir à fôrma que nos é imposta. Não se pode jamais perder a soberania própria, ainda mais porque ela se encontra sob a égide da soberania divida, ainda que sofra constante e insistente ameaça.


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