Não confunda socialismo com justiça social


Essa semana tive a chance de me deparar com dois textos que circularam pelas redes sociais e me deixaram simplesmente chocada (se é que ainda é possível se chocar com alguma coisa que acontece no Brasil).
Um deles, publicado pelo portal Yahoo de notícias, traz o seguinte título: “Grupo enviado por Maduro ao Brasil dá aulas de socialismo ao MST”. (confira aqui). É isso mesmo. Estamos falando nesse caso, de um grupo enviado pelo atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que parece estar exportando know-how para integrantes do Movimento sem Terra aqui no Brasil.

Diante de tal matéria, me fiz a seguinte pergunta: o que mais é preciso acontecer para que o nosso país acorde? Sinceramente, não sei. E o que aumenta o meu assombro diante de um fato como esse é pensar que os reais, os verdadeiros sem teto, sem comida, sem roupa, sem saúde, estão sendo literalmente usados para cavar sua própria cova! Faço minhas as palavras da conivente presidente Dilma: “é estarrecedor”! E essa não é uma questão de ser ou não a favor dos benefícios sociais. Haja vista a realidade de muitos conterrâneos nossos, para os quais fazer mais de uma refeição por dia é artigo de luxo. A questão é: é isso o que se chama de justiça social?

Somada a essa notícia, um artigo da colunista Aina Cruz, redatora do Brasil Post (confira aqui), também me causou um certo espanto. O texto, escrito em leve tom de ironia, parece querer esclarecer ao leitor que medidas adotadas pelo atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ao pintar a cidade com faixas vermelhas para ciclistas e brancas para ônibus são sinônimo de grandes passos em nome das classes menos favorecidas. Ela chega a dizer que, alguns paulistanos, que ela carinhosamente chama de “nossa elite”, “ficam extremamente chateados com o fato de demorarem no trânsito e acreditam que quem é pobre e não tem um carro, tem mais é que perder duas horas mesmo no trânsito dentro do ônibus. ‘Ah, eles já estão acostumados com isso! Moram lá longe! Deixa eles...!’. Defendem que a prefeitura deveria criar mais vias de acesso rápido para carros, como as marginais, por exemplo, e não desperdiçar o dinheiro público investindo num tipo de transporte que contemple todos os cidadãos da cidade.” (Não duvido que ela tenha ouvido isso de alguém, mas será que é justo colocar tais considerações na boca de todos os que ela chama de “nossa elite”?)

No meu entender, investimento em transporte público vai muito além do que pintar a cidade. Ou será que sou eu que estou confundindo as coisas? Será que sou só eu a constatar diariamente que os executivos da cidade continuam em seus carros horas a fio enquanto os mais carentes amargam as mesmas horas enfileirados em faixas de ônibus? O correto não seria possibilitar que todo tipo de profissional partilhasse o mesmo espaço e gastasse um tempo digno pra chegar ao seu trabalho?
Essas duas publicações me chocam por mostrarem o quão entorpecente pode ser esse discurso de esquerda, ou socialista, como queiram.  A redatora que citei acima, chega a afirmar que a “elite” está inconformada “com o fato de outras pessoas se refestelarem assim, do nada, ocupando o seu espaço", afirma ela.

Mas será que é isso mesmo? Será que ela tem razão? Esse é o pensamento da maioria? Ou será que levar uma vida decente, e colher o fruto do seu trabalho, se tornou um pecado a ser condenado e  a “elite” deveria pagar caro por isso?
O que me deixa inconformada é saber que aqueles que dizem defender as classes menos favorecidas, parecem se contentar com essas supostas conquistas do povo. Enxergam estas pinceladas de tinta como um grande avanço! Como podem ignorar o fato de que muitos que hoje circulam livremente pelas ruas da cidade, em suas bicicletas e coletivos, sequer podem sonhar em provar de uma refeição num bom restaurante ou pagar com seu salário um ingresso para o teatro ou cinema! Comprar um livro, então, seria o cúmulo da ostentação! (Ah, se mais brasileiros consumissem livros, talvez nem estivesse escrevendo esse texto...) Ora, todas essas coisas não são boas, saudáveis, legítimas?

E o que dizer dos adolescentes, que receberam tanta atenção do referido prefeito, depois de protagonizarem os chamados “rolezinhos”, alguns inclusive, realizados nos shoppings mais caros da cidade? Vale lembrar que nunca houve qualquer impedimento em relação à entrada desses jovens por esses locais. Agora, a pergunta que se faz é: será mesmo que frequentar esses espaços é o suficiente? Eles só querem estar lá? Ou no fundo sonham um dia serem financeiramente preparados para adentrar uma daquelas lojas e realizar uma compra? Por que será que muitos desses jovens passaram a comprometer, por exemplo, sua própria saúde ao consumirem acessórios de aparelhos dentários falsos a fim de se parecerem mais com a chamada “elite”? Eles não deveriam ter garantido o acesso a um tratamento dentário de qualidade? Quantos já não perderam a vida em brigas fúteis? Quantos estão desperdiçando sua juventude consumindo drogas como se fossem um pedaço de chocolate comprado na vendinha da esquina? E o que dizer do aluguel de Iphones? Das camisetas falsificadas com estampas de grife?

Será que esse é o objetivo? Será mesmo que a solução é entregar aos nossos patrícios um mundo falso e maquiado, que seja, em teoria, suficiente para aplacar a NOSSA consciência social? (Afinal de contas, eles estão saindo de seus bairros carentes e circulando por aí...). A resposta, infelizmente, parece ser sim. E só há o que se lamentar, afinal, com o Brasil completamente falido em termos financeiros, até a make up vai ficar escassa.
E isso me traz à mente o que disse Jesus, certa vez, a uma enorme multidão atenta, que o acompanhava: “Felizes são aqueles que têm fome e sede de justiça, pois serão fartos”.
A verdade, ao que parece, é que alguns de nós se saciaram cedo demais.


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