Quando meu filho não quer ser quem ele é...

 Uma reflexão sobre conflito de identidade de gênero.

Recentemente, a revista brasileira Nova Escola, publicou uma matéria trazendo na capa a foto de um menino de apenas cinco anos usando vestido e acessórios de princesa. Sob o título: “Educação sexual: precisamos falar sobre Romeo...”,  a reportagem queria mostrar que casos como esses são comuns ao contexto escolar e que nem sempre pais e educadores estão preparados para lidar com a situação. O que mais causa espanto é o fato de a revista chamar a atenção para a necessidade de se aceitar com naturalidade esse tipo de comportamento, sem levar em conta, por exemplo, o fato desse menino ter em sua casa, um guarda-roupa com mais de cem vestidos! Tal abordagem revela exatamente como funciona o pensamento de nossa época a respeito de um assunto tão delicado e ao mesmo tempo tão importante, e que precisa ser discutido.

Talvez você, que está lendo esse texto, venha enfrentando dificuldades com seu filho ou filha, no que tange à identidade sexual, e isso esteja lhe causando angústia e insegurança. Por conta disso, devemos então voltar nossos olhos para a Palavra de Deus, que é nossa principal referência quando desejamos compreender a essência humana, e assim extrair dela as diretrizes que possam realmente vir ao nosso auxilio. Se a questão é identidade, nenhum livro é mais indicado do que própria a Bíblia para nos mostrar como Deus planejou e definiu o ser humano, criando dois únicos gêneros à sua imagem e semelhança. Vejamos: 

1.      A Bíblia nos mostra claramente que Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança, estabelecendo dois gêneros específicos: homem e mulher (Gn 1.27). Até mesmo na própria natureza Deus fez questão de deixar isso evidente quando pediu a Adão para dar nome aos animais. Tal tarefa permitiu que Adão percebesse os pares presentes em todas as espécies, e isso o levou a desejar para si, alguém que lhe fosse compatível. Deus então criou a mulher. Não só em Gênesis, mas em toda a Escritura, Deus revela com clareza as características desses dois gêneros, nos chamando a atenção para o papel de cada um; como deveriam agir e se relacionar, e de que forma poderiam honrar ao seu Criador no exercício desses papéis. Já no Édem, é possível notar essa distinção: Deus outorgou a liderança a Adão Deus e conferiu a Eva, sua esposa, a função de auxiliadora. É importante notar que, ao final da criação, Deus olhou para tudo quanto havia feito e disse que era “muito bom” (Gn 1.31).

2.      Por sua vez, a Queda, narrada no capítulo 3 de Gênesis, permitiu que o pecado entrasse no mundo, causando toda sorte de problemas, não só para a natureza, como também para a harmonia do primeiro casal. Todas as características peculiares ao ser humano foram manchadas pelo pecado e somente o próprio Deus poderia garantir a restauração de seu plano original.

3.      Apesar da entrada do pecado, o projeto de Deus não foi destruído. Por isso, no mesmo capítulo 3 de Gênesis, observamos a ação de um Pai amoroso e perdoador anunciando a redenção de tudo o quanto fizera. Em nenhum momento vemos Deus alterando sua proposta inicial, ao contrário, ele deixa claro a Adão que, apesar da presença do pecado, seus desígnios e propósitos seriam cumpridos: Adão continuaria chefiando sua família e Eva o auxiliaria nessa tarefa (veja Gn 3.15-20). Embora a presença do pecado tenha embaralhado as peculiaridades conferidas por Deus ao homem e à mulher, nossa tarefa é ter o padrão divino como um alvo a ser perseguido.

4.      Quanto às características biológicas do ser humano, a ciência concorda com a Bíblia ao apontar para a existência de apenas dois gêneros: o masculino e o feminino, que são definidos no momento da concepção. Embora já existam estudos que apontem para a possibilidade de alguma disfunção hormonal ou cerebral causar uma propensão ao que a medicina chama hoje de Transtorno de Identidade de Gênero (TGI), além de serem casos extremamente raros, a mesma pesquisa admite que tal comportamento está muito mais relacionado a fatores sociais e ambientais. Há também algumas correntes da Psicologia e da Psiquiatria que defendem a ideia de que a sexualidade de um indivíduo é construída ao longo de sua vida. Segundo esse pensamento, embora a pessoa apresente uma identidade sexual determinada biologicamente, isso não necessariamente delimitaria sua sexualidade. 

Sabemos que esse modo de enxergar a identificação sexual humana contraria o que a Bíblia nos ensina, por isso, precisamos considerar que:

- Somos pecadores desde o momento de nossa concepção (Sl 51.5). Isso significa que embora tenhamos em nossos braços um bebê lindo e fofinho, jamais devemos nos esquecer que ele também é um pecador.
- O pecado causou conflito em todas as áreas da vida humana e despertou toda sorte de tentações.
- Deus é quem define nossa sexualidade ainda no ventre de nossa mãe (Sl 139.13-16).
- Quando nascemos, Deus nos insere em uma família, para que sejamos educados e orientados em todas as coisas, até mesmo no que se refere à nossa identidade de gênero. Quando a dinâmica de uma família está distante da proposta que Deus estipulou em sua Palavra, há prejuízos na formação dos filhos oriundos desse lar. A família, então, deve submeter-se a uma avaliação profunda a partir dos preceitos bíblicos, para que erros sejam corrigidos, pecados sejam abandonados e haja uma reorganização familiar alicerçada em Cristo.

5.      Falando agora especificamente sobre o conflito de identidade de gênero, a primeira medida a ser tomada é procurar identificar se existem fatores ao redor da criança, que possam ser fonte de problemas nessa área. É importante pontuá-los, pois eles não só ajudam a encontrar a origem desse comportamento como também vão nortear a busca por soluções. Embora seja um assunto extremamente delicado, algumas hipóteses devem ser levantadas a fim de explicar esse desvio de comportamento:

a.      Abuso sexual. Essa é uma questão séria e que precisa ser  abordada. Embora esse não seja o único fator causador de conflitos em relação à identidade sexual, os males e traumas provenientes dessa prática tem repercussão direta nessa área e devem ser tratados. Cremos no poder de Deus para restaurar vidas que foram vítimas de atos como esse, e devemos buscar os recursos que ele mesmo disponibilizou para que haja a cura dessas feridas. Em muitos casos, pra não dizer em todos, faz-se necessário um acompanhamento com profissionais, e aqui é imprescindível que eles fundamentem suas ações em concepções e pressupostos cristãos, e portanto, sejam instrumentos de Deus na busca pela restauração espiritual e emocional desse indivíduo. Também não podemos ignorar o fato de que grande parte dessas agressões são cometidas por pessoas próximas à família, às vezes um parente,  alguém em quem a criança confia. Esse tópico merece atenção principalmente no caso de crianças que passam várias horas do dia sob o cuidado de terceiros.

b.      Incentivo a que a criança se comporte e tenha atitudes contrárias à sua identidade sexual. Pode parecer um pouco estranho, mas essa atitude é mais comum do que imaginamos. Muitas vezes, a família está frustrada, pois desejava um menino, mas nasceu uma menina, ou vive versa. Na tentativa de sanar esse suposto desconforto, pais criam o filho, não de acordo com sua identidade biológica, mas conforme um desejo pecaminoso e egoísta de seus corações. Isso não significa que um menino que brinca com bonecas, ou uma menina que brinca com carrinhos vá apresentar conflitos em relação ao seu gênero. Também não significa que um menino que é ensinado a ajudar nas tarefas da casa ou uma menina que decide fazer engenharia está trocando de papéis. O perigo está no estímulo e na repetição de comportamentos que acabam por confundir a mente da criança no que tange à sua sexualidade. Encher o armário de um menino com vestidos femininos, como mostrou a revista Nova Escola,  é um exemplo desse equívoco. Estimular a criança a que ela fale, se vista, e aja como alguém do sexo oposto, pode levá-la, não só a se mudar seu comportamento, como também a rejeitar a identidade que o próprio Deus lhe conferiu. Lembre-se: o pecado atingiu todas as áreas da vida humana e corrompeu a imagem de Deus no ser que ele criou, daí a necessidade de perseguirmos o que ele mesmo estabeleceu como padrão. Jamais podemos perder de vista que sua vontade é boa, agradável e perfeita, e ela está revelada e explícita em sua Palavra.

c.       Ausência de referências. Quando uma criança está em formação é natural que ela imite aquilo que vê. Uma menininha, já bem pequena, imita sua mãe ao querer usar maquiagem, segura sua boneca como se fosse um bebê e dá asas à imaginação quando assiste a um filme de princesas, pois cria uma identificação a partir de sua própria feminilidade. Da mesma forma, o menino, quando vê seu pai saindo para o trabalho, fazendo a  barba, dirigindo o carro, etc. Ele formula em sua mente, uma identificação conforme os aspectos masculinos que ele já carrega em si. Numa família em que essas referências não estejam bem definidas, ou estejam trocadas, as chances de conflitos em relação à identidade de gênero aumentam. Uma criança que passa todo o tempo aos cuidados de uma babá, ou da avó e outros familiares, ou da escola, ou que tenha um pai ausente, terá mais dificuldades em observar e imitar as referências que são fundamentais para o seu desenvolvimento. Vale lembrar que foi o próprio Deus quem as definiu. Jesus, como Deus encarnado, embora tendo sido concebido pelo Espírito Santo, foi inserido em uma família formada por pai e mãe. Encontramos no relato bíblico o registro de que ele exercia, inclusive, a profissão de seu pai, que era carpinteiro (Mc 6.3). O livro de Hebreus também nos mostra que nosso Salvador, embora sem pecado, aprendeu a obediência e esteve sob os cuidados de seus pais (Hb 5.7-10), cumprindo a missão de ser nosso perfeito mediador. Os evangelhos também nos apresentam episódios que dão mostras desse crescimento e aperfeiçoamento de Jesus: “E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens” (Lc 5.52)

Todas essas questões acima precisam ser consideradas quando estamos na busca por compreender o que tem levado crianças tão pequenas a se sentirem confusas em relação à sua identidade sexual.
  
6.      Como então lidar com essas três hipóteses?

- Em primeiro lugar é  necessária uma auto-avaliação. Verifique se essas distorções são visíveis em seu lar:
a. falta do referencial masculino na figua do pai
b. falta do referêncial feminino na figura da mãe
c. inversão de papeis – um lar com um pai omisso e uma mãe dominadora
d. ausência dos pais no cotidiano dos filhos
e. pouca preocupação com a formação espiritual dos filhos

Esses pontos devem ser revistos com base nos ditames da Palavra de Deus. Quando os filhos vivem num contexto em que essas relações estão confusas, quando notam que a liderança do lar está trocada, ou quando não estão familiarizados com as funções que competem aos seus pais, crescem inseguros quanto à concepção de homem e mulher, ainda que não seja um processo consciente. Filhos que passam a maior parte do tempo com suas avós, ou com a babá, além de serem ceifados da presença dos pais (especialmente da mãe), estão se desenvolvendo com pouca ou quem sabe, nenhuma referência em relação à sua própria identidade. Se esses erros estão sento cometidos, é hora de confessá-los diante do Pai, buscar seu perdão e contar com a companhia de Deus para a restauração desse lar. Nosso Deus jamais despreza um coração contrito e tem total interesse em abençoar e transformar famílias. (Leia Sl 34.18; 51.17)

- Os pais são os responsáveis diretos pela educação de seus filhos, não a avó, a babá ou a escola. Deus mesmo os confia esse papel, portanto, é fundamental que se busque o diálogo com a criança. É importante lembar também, que essa conversa não pode se iniciar tentando arrancar de seu filho alguma experiência ou situação já vivida. Com calma e paciência deixe que ele se sinta confiante para partilhar coisas do cotidiano, sem necessariamente entrar nessas questões.  Por vezes, achamos que a confiança dos filhos em seus pais é algo que existe naturalmente por conta dessa relação parental. Isso nem sempre é assim, aliás, na maioria das vezes, essa confiança é conquistada com muita perseverança. Eles precisam constantemente ser lembrados de que são amados, em primeiro lugar por Deus, e depois por seus pais,  e que nada do que venham a fazer vai mudar esse amor. Além disso, eles devem estar cientes da importância que ocupam na vida dos pais. Deixar os afazeres para dar total atenção, olhar nos olhos, são pequenas atitudes que podem ajuda-los a compartilhar suas vidas com maior desprendimento e intimidade.

- Compartilhe a Bíblia com seu filho. Ensine a ele como Deus definiu a espécie humana em gênero masculino e feminino, lembrando de como isso o alegrou ao final da Criação, ao dizer que tudo o que ele havia feito era muito bom. Lembre seu filho de que foi o próprio Deus quem o criou e que ele deve se alegrar com a identidade que recebeu. Se seu filho for um menino, você pode citar os diversos exemplo bíblicos que delimitam o papel de cada gênero ou lembrá-lo de personagens que foram usados por Deus para tarefas que exigiam força, coragem, inteligência e trabalhos pesados. Conte a ele sobre Moisés, Josué, Daniel, Davi enfatizando o modo maravilhoso como cada um deles agradou a Deus cumprindo o propósito para o qual foram chamados. Se for uma menina, converse com ela sobre mulheres fortes e belas como Sarah, Rebeca, Ruth, Ester, revelando sua feminilidade, mostrando a sabedoria de Deus ao definir funções impares e, ao mesmo tempo, de suma importância para a realização de seus decretos. Invista no culto doméstico, ressaltando não só esses pontos, mas aproveitando situações do dia a dia para aproxima-los ainda mais da Palavra de Deus.

- Ensine ao seu filho que ele é pecador, e portanto, carece da graça de Deus. Não deixe de corrigi-lo em sua desobediência e mostre a ele que desejar mudar o modo como Deus o fez é uma forma de mostrar-se rebelde diante da imagem e semelhança do Criador, que ele mesmo carrega. Use esse momento da disciplina para mostrar ao seu filho o poder redentivo e restaurador da graça de Cristo. Diga a ele que nosso Salvador sabe que somos pecadores, mas a boa notícia é que ele tem poder para perdoar pecados e transformar completamente a vida de qualquer pessoa, até mesmo de uma criança. O autor de Hebreus nos diz: “Na verdade, nenhuma correção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos que por ele têm sido exercitados” (Hb 12.11). Nosso Pai Celeste está pronto para causar intensa transformação na vida daqueles que o aceitam e tem total interesse em aliviar nosso sofrimento, pois já os levou sobre a cruz. Você (mãe ou pai) pode pedir ao Senhor palavras sábias para que que consiga equilibrar a exortação com o consolo do perdão que vem do Alto.

7.      Infelizmente, encontramos em nossos dias, muitos profissionais da psicologia e pedagogia dizendo que não se pode forçar a criança a agir conforme sua identidade biológica e que se ela se sente feliz se comportando como alguém do sexo oposto é isso que importa. Não se deixe enganar por esses conceitos, pois eles não correspondem ao que diz a Bíblia, que é nossa principal fonte de autoridade. A felicidade não pode ser conquistada a partir de comportamentos pecaminosos, portanto, você não precisa se sentir culpada por corrigir e educar seu filho ou orientá-lo a que haja de acordo com as Escrituras. Nossa tarefa é cumprir o que disse Paulo aos Efésios: “E vós, pais, não provoqueis à ira vossos filhos, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor” (Ef 6.4). Mesmo porque, o que vai mesmo lhes garantir paz e alegria, será realizar a vontade de Deus revelada em sua Palavra.

Lembre-se: seu filho ainda está em formação, portanto, há tempo para que essas dificuldades sejam superadas. Deus não nos deixa sós enquanto realizamos seus propósitos e ele ainda disponibiliza os recursos necessários para a solução dos nossos problemas.
Busque ajuda. Procure o seu pastor ou um conselheiro cristão em quem você confia e, se achar necessário,  peça indicação de algum profissional para lhe auxiliar nesse processo.

Jamais se esqueça de que Deus é soberano sobre todas as coisas. Ele conhece as lutas dos seus servos e está sempre pronto para atender ao seu clamor. Tenha sempre em sua mente e em seu coração que: “Perto está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade”. (Sl 145.18)

Comentários

Unknown disse…
Muito bom e propício seu texto sobre esse assunto tão falado nos últimos tempos. Tem me espantado o grande número de pessoas, inclusive algumas saque se dizem cristãs, que acham normal esse tipo de comportamento. Que Deus em sua infinita bondade, graça e misericórdia os dê sabedoria para guiar nossos filhos sempre através da Sua palavra!
Anônimo disse…
Excelente, Su! Claro e direto. Temos vivido dias maus, amiga. Como é bom saber que a palavra de Deus mostra nossa maravilhosa esperança em Cristo!

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