É uma criança? É um adulto? Não! É um adolescente!

 

Uma das coisas que tem me encantado na adolescência das minhas filhas é a oportunidade de conversar com elas num patamar diferente. Já conseguimos arrazoar sobre assuntos mais complexos, sobre o que ouvimos na mídia, sobre política, relacionamentos, temas que até então não faziam parte das suas preocupações. Afinal, crianças não estão interessadas nos problemas do mundo ao seu redor. Já o adolescente, esse sim já tem a própria opinião sobre muitas coisas, e vai externá-las de uma forma ou de outra, quer diante dos pais, quer diante de seus pares.

Com três adolescentes em casa, uma delas já deixando essa fase, esse cenário é bem evidente.

Alguns dias atrás, numa conversa à mesa, falávamos sobre a escolha de material de estudo bíblico para adolescentes, e notei uma certa desaprovação da parte delas em relação a livros publicados para esse público e que são cheios de ilustrações, ou coloridos demais, quase que infantis. Começamos então a comentar sobre essa tendência de subestimar a capacidade do adolescente de estudar e refletir sobre questões mais profundas, e no meio desse papo, uma delas disse: “às vezes tenho a impressão de que os adultos olham pros adolescentes como se eles fossem uma criança alta”. Após rir alto com a frase, fiquei pensado: “Uau, que observação fantástica!” Acho que eu não conseguiria traduzir essa realidade de forma tão simples e precisa!

É interessante perceber que nós pais, professores, irmãos adultos da igreja, por vezes olhamos para os nossos adolescentes como sendo “crianças altas’, das quais não se tolera mais certos tipos de comportamento, mas que ao mesmo tempo, não parecem ter muito a contribuir quando assuntos sérios vêm à tona.

Algo que realmete incomoda o adolescente é ter a sensação de que ninguém é capaz de compreendê-lo, quando na verdade, o que eles mais buscam é a oportunidade de serem ouvidos.

O problema é que nem sempre estamos dispostos a ouvir suas ideias e opiniões. Geralmente porque elas fatalmente vão refletir as maiores influências desses jovens, e isso pode entrar em conflito com a nossa visão como pais, e pode ser chocante para nós, perceber que nossos filhos não partilham das nossas convicções, ou pior ainda, que eles sequer expressam a mesma fé que nós confessamos.

Isso é muito triste, mas tão comum e tão real! Às vezes perdemos a dimensão de que por trás daquela “criança alta" há uma pessoa cheia de perguntas sem resposta, há um jovem em busca da própria identidade, e que está passando por um dos períodos mais desafiadores da formação do ser-humano, que é aquele que antecede a fase adulta.

Mais do que tentar mudar a cabeça do adolescente, numa fase em que ele já tem muita opinião sobre muita coisa, é preciso que a gente mude também o nosso jeito de enxergar esse processo.  Ser pais de adolescentes é um teste da nossa capacidade de conseguir olhar para o filho como alguém que está em busca de respostas a perguntas que ele talvez nem saiba fazer.

Entre os 13 e 18 anos, há uma quantidade enorme de informações e ideias que ocupam a mente do adolescente, desde preocupações com sua aparência, até dúvidas sobre a existência de Deus.  

Como os adultos da história, precisamos caminhar com eles a ponto de ajudá-los a fazer como nos incentiva o Salmo 139: sondar o próprio coração. E essa não é uma tarefa simples. E os resultados não são notados de uma hora pra outra.

Como pais, o que podermos fazer, então?

1.       Ore incessantemente por seu adolescente. Não desista, não pare, não desanime. Seja como a viúva insistente (Lucas 18).

2.       Invista na vida espiritual do seu filho. Separe momentos da semana para o culto doméstico. Estude um livro da Bíblia, ou escolha um livro cristão a ser lido em família. Abra espaço para discussão do assunto escolhido. Elabore perguntas para que seus filhos respondam.

3.       Seja intencional no seu contato com seu filho. Planeje momentos para estar com ele, para passar um tempo juntos, num lugar em que vocês tenham a oportunidade de conversar e se divertir ao mesmo tempo.

4.       Conte com seu filho para tarefas da casa, ou do seu trabalho.

5.    Seja você a ensinar seu filho (a), a cozinhar, a cuidar das próprias roupas, a administrar o próprio dinheiro.

6.       Não se assuste ou se irrite quando seu filho trouxer uma dúvida que aos seus olhos tem uma resposta óbvia. Pode ser que pra ele, seja uma questão a ser trabalhada com mais cuidado, mais estudo, mais textos bíblicos, mais leituras, mais aconselhamento.

7.      Ouça o que seu filho tem a dizer e não despreze sua opinião. Não ria do que ele pensa. Às vezes, nossos filhos conseguem trazer uma perspectiva diferente sobre situações que para nós eram apenas “preto no branco”.

8.     Descubra as aptidões do seu filho, e invista nisso! Se é tocar um instrumento, conte com ele para os cânticos em casa ou na igreja. Se é escrever, conte com ele para corrigir seus textos. Se é matemática, peça sua ajuda para calcular os ganhos e gastos da casa.

 

Entre outras coisas, permita que seu adolescente, que não é uma “criança alta”, participe da vida comum do lar. Não fique só preocupado com seu desempenho nos estudos, mas ajude-o a se preparar para toda a vida adulta que o espera, e não muito mais tarde.

Ame seu adolescente!

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