Nossos filhos, instrumentos de Deus

Já há algumas semanas venho desempenhando uma nova modalidade em minha trajetória como mãe, esposa, dona de casa, e porque não agora “mãetorista”, como diz uma amiga. Ainda estou dando meus primeiros passos, ou melhor, correndo meus primeiros kilômetros nessa nova função que adquiri e que está se tornando uma verdadeira ferramenta de trabalho e tem em muito facilitado o cumprimento de minhas tarefas do dia a dia. Mas apesar do pouco tempo de trânsito, principalmente guiando numa cidade como São Paulo, já posso perceber o quanto pequenas coisas que acontecem nesse contexto, como um carro que nos fecha pela direita, ou alguém que não respeita a sinalização, podem em questão de segundos nos fazer pecar. Ainda mais para alguém impaciente como eu em que a irritabilidade é quase que inevitável.

Quando voltava com minhas princesas pra casa após uma reunião de crianças em nossa igreja fui surpreendida com um carro que atravessou em minha frente ignorando completamente o fato de que a preferência de passagem era minha, uma situação que me deixou um pouco nervosa, dada minha inexperiência em dirigir. Imediatamente proferi uma palavra não muito educada referindo-me ao motorista inconseqüente, nada muito grave, mas simplesmente algo que já havia ensinado às minhas filhas que não se deveria dizer. E então me deparei com a seguinte frase: “Mamãe, a gente não pode falar assim, isso não agrada a Deus”. Dois sentimentos invadiram meu coração após atentar para o que havia acabado de escutar, o primeiro deles foi imediato, e que me fez corar de vergonha ao ser repreendida por minha filha de 4 anos que naquele momento era uma porta-voz de Deus em minha vida. Senti-me como se estivesse ouvindo o apóstolo Paulo dizer aos efésios: “Não saia de vossa boca nenhuma palavra torpe...” (Ef 4.9), ou o próprio Jesus ao dizer que aquele que chama seu irmão de tolo, em seu íntimo matou seu irmão. O fato é que naquele instante fui tomada por uma completa sensação de derrota, pois sucumbi à tentação de conter a ira. Resignada, minha atitude então foi dizer: “Você tem razão filha, isso realmente não agrada a Deus. Me desculpe”.

Mas antes de me deixar abater pela consciência de que havia cometido uma falha, outro sentimento tão importante quanto o arrependimento me chamou a atenção. Deus usou aquele fato corriqueiro para me fazer notar que apesar das minhas limitações, de minhas deficiências, ele tem me usado para ser sua agente na vida de minhas filhas. Embora ainda tão pequenas elas já têm capacidade para compreender, dentro de sua maturidade intelectual, que bater no irmão é pecado, que usar qualquer palavra que venha a menosprezar alguém é errado, que falar mentira desagrada a Deus, conceitos simples mas fundamentais para que a criança a medida em que se desenvolve física, emocional e intelectualmente vá também exercitando seu crescimento espiritual, ou seja, vá aprendendo sobre si mesma, sobre suas inclinações e sobre quem vem a ser esse Deus que a fez. Isso nos faz pensar sobre como os valores de Deus são elevados, seus preceitos são retos, santos, e acima de tudo invariáveis. E embora pareçam inatingíveis, quanto mais cedo forem apresentados aos nossos filhos mais cedo serão assimilados e obedecidos.

Aquela sensação frustrante que senti num primeiro momento diante desse acontecido deu lugar então a um segundo sentimento, algo que fez meu coração pular de alegria. Vitória foi a palavra que me veio a mente ao me dar conta de que minha filha, em sua primeira infância já dava mostras, ainda que infimamente, de conhecer sobre esse Deus que requer de nós não menos que a perfeição. Estas ocasiões tão especiais é que nos fazem perceber que o cansaço físico, o desgaste emocional, as horas de choro ouvidas diariamente, as petições intermináveis, de repente se dissipam na mente e abrem espaço para notarmos que vale a pena todo o esforço empreendido na busca pela religação dos nossos filhos com seu Criador.
"Eu, de boa vontade, me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma…" (2 Coríntios 12.15)

Comentários

Anônimo disse…
Su, eu acho você uma mãe incrível! Aprendo bastante quando converso contigo e, agora com o blog, quando leio o que escreve! Deus te abençoe!
BJ

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